Mesmo depois de ter sido hospitalisada, de ter sofrido tanto, de ter passado o aniversario fechada num hospital, a minha mãe não aprendeu a lição. Não sei se ja falei sobre isso no blog (não me lembro) no ano passado, no verão a minha mãe foi hospitalisada, ela teve uma "cirrose" (devido ao excesso consumo de alcool). Durante a sua hospitalização ela deu-se conta do estado que estava, deu-se conta das merdas que fez.
Depois de 3 meses no hospital, e varias consultas médicas e no psicologo, ela voltou para casa. Decidiu mudar, decidiu mudar de modo de vida. Queria estar mais presente na familia, cuidar da familia, da casa, ser feliz. Entao decidiu parar de beber, de controlar a sua vida.
Essa mudança teve efeito. De facto, ela ja não bebia, tentava ter uma familia feliz (fazia bolos todos os dias, tentava estar sempre conosco) mas infelizmente, ela esperava demasiado de nos e acabou por estar um pouco deceptionada. Ela foi forçada a mudar, mas nos não esquecemos o passado. O passado deixou marcas nela e em nos.
Jantar em familia ? Saidas em familia? conversas em familia ? o que é isso ? Eu e os meus irmãos estavamos habituados a ter uma vida que não tinha como centro a familia. Saiamos com amigos sempre que podiamos, as prendas eram apenas de nos (irmãos) e quando estavamos em casa (o pouco tempo que estavamos) era sempre cada um no quarto.
Por um tempo, ela ficou magoada, a dizer que ela mudou, que não somos uma verdadeira familia, que ela queria mudar isso. Durante um tempo ficou amuada, tentei explicar-lhe a situação, os nossos sentimentos (sim porque os meus irmaos nao falavam com os meus pais). Mas em vão.
Hoje as coisas estao melhores, falamos mais, mas ao mesmo tempo, eu e um dos meus irmaos mudamos de casa, estamos mais ausentes e temos vida além da familia (sempre que saio com amigos, ela decide atirar-me isso à cara, e dizer que não faço esforços) é verdade, não faço mais esforços. Mas não me julguem, eu tentei.
Sempre fui aquela que a apoiou, mesmo quando ela bebia, mesmo quando ela me magoava, quando insultava-me. Sempre estive presente quando ela esteve no hospital, sempre tentei lembrar-lhe de coisas boas etc.
Mas ha pouco tempo descobri que todo o esforço não serviu de nada. O médico apenas lhe disse "nunca mais volte a beber senão acabou-se tudo para você. O seu figado esta destruido". Adivinhem o que descobri ? Ela voltou a beber !
Ela sempre gostou de beber espumante com o meu pai (como aperitivo), ela quis guardar esse habito e comecou a beber espumante sem alcool. Mas nao durou muito. Ha pouco tempo limpei à casa (uma surpresa para ela que vinha cansada do trabalho) e encontrei uma garrafa de vinho escondida (lembrou-me em Portugal, quando eu limpava SEMPRE a casa por ela nao estar em estado ou estar ocupada) mas pensei: "não, vou fazer confiança nela. Ela não voltou a beber, ainda menos as escondidas." . Algum tempo depois, durante o jantar vejo que ela esta chata (sempre a fazer crises por nada, a chorar) e desconfiei. Olhei o espumente e tinha alcool! Confrontei-a, perguntei o porque, lembrei-lhe das palavras que o medico disse, lembrei-a de tudo o que ela nos fez e o que se fez à ela propria. A sua unica resposta: " é um pedido de ajuda"... tentei falar com ela, e ela chorou agradecendo por eu me preocupar e jurou não voltar a faze-lo. 3 dias depois, ela voltou a beber o espumante (tem pouco alcool, mas é alcool! ) e ela apenas disse : "estou farta da agua, e é bom".
Foi ai que desisti. Apenas disse-lhe "se não cuidas de ti, eu não vou mais cuidar."
Desde então fazemos de conta que nada aconteceu. Ela continua a queixar-se que não lhe ligamos nenhuma, que nunca estamos em casa, que não somos uma verdadeira familia.
Eu venho todos os fins de semana, e durante as ferias. Todas as noites, depois do jantar, quando todos vão se deitar eu fico ao pé dela, falo com ela, faço palavras cruzadas etc.
Mas ainda hoje, hoje à noite ela esta naquele estado que leva tudo a mal, que apenas ela sofre, fala como se o mundo vira-se a volta dela. E isso apenas lembra-me Portugal, do seu estado. Sinto que ela esta bebeda, chata como quando esta bebeda, e não quero ficar perto dela. As suas conversas de "vou sair de casa', de "voces não gostam de mim", de "estas do lado do teu pai", entre outras, apenas : não, não consigo mais.